terça-feira, 23 de novembro de 2010

Décimo Terceiro Dia

                Mais uma vez dormindo em cima de uma arvore, minhas costas já não agüentam mais, mas não posso me arriscar a ficar no chão depois que tantos deles surgiram a noite. Temo por mim e pela criança, ela continua sem mencionar nada mais sobre sua cidade, tenho certeza que ela esconde algo, mas o que? E principalmente, por que?
                Estamos a alguns quilômetros de uma cidadezinha, e algo me chamou atenção ontem a noite, havia holofotes fazendo sinais de luz... Não sei se foi uma ilusão criada pela minha cabeça, mas tenho certeza de que vi. Estamos indo em direção a ela, se há luz, deve haver um gerador, e se há um gerador, deve haver alguém manuseando ele, ou seja, sobreviventes.
                Espero que não sejam mais malucos homicidas adoradores de mortos vivos. Estamos observando a cidade antes de irmos, digo observando por que preciso entreter esta criança, ela já não se comunica e se eu  não der alguma função para ela, sinto que ela vai enlouquecer. Observamos cada detalhe da cidade, ela não aparenta ser uma cidade muito grande e nem muito pequena, pelo que posso ver dela diria que antes disso tudo devia possui uma media de duzentos mil habitantes. Já pude observar uma delegacia e alguns mercados, alem de vários carros na rua, talvez enquanto procuremos os sobreviventes, seja uma boa hora de arrumar novos suprimentos, a comida que eu tinha já acabou, e não comemos a pelo menos um dia inteiro.
                Também observei um grande numero “deles”, próximo a onde acredito ter sido o ponto que enviou o sinal, provavelmente foram atraídos para arrumarem comida. Se houverem sobreviventes terei de ver como chegarei ate eles, e se vale a pena chegar, se não colocarei minha vida e da criança em risco por nada ou se cairemos numa armadilha de outros dementes.
                Entrar na cidade... A criança não pode ficar sozinha aqui fora da cidade, mas não sei também se é uma boa idéia levá-la. Se eu deixá-la e surgir algo, ela morre, se eu levá-la e surgir algo provavelmente ela morre, e se não formos, ambos morreremos. E pensar que chegaria um dia que teríamos que decidir nossas vidas pelas chances de morrer...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Décimo Segundo Dia

“Eles” passaram por nós a noite inteira, por sorte não nos viram, mas estavam em um numero gigantesco, como se seguissem algo. Ou como se “eles” estivessem indo a algum lugar. É assustador tentar ver alguma lógica nas atitudes deles, como se eles pudessem raciocinar.
Ficamos em cima de uma arvore, torcendo para que não olhassem para cima e não aparecesse nenhum “caçador”. Se acontecesse, estaríamos mortos, ou pelo menos, presos ate morrer em cima de uma maldita arvore.Eles não olharam, deviam estar ocupados demais na “maratona-dos-mortos”... Humor negro nessas horas, acho que é prova que estou ficando louco. Será que em algum lugar no mundo alguém ainda ri? Alguém ainda se diverte?
Deviam ser milhares, foi a noite, ficou difícil de ver, mas pelo barulho, era como um exercito se movendo. A menina ficou desesperada, por segundos não entregou nossa posição, enquanto ela dormia, “eles” chegaram, a grande movimentação a acordou, eu tive que ter muita habilidade em pega-la e tapar sua boca, sem nos derrubar de cima da arvore ao mesmo tempo que impedia que nos vissem.
E do mesmo modo como vieram, se foram, indo em direção da estrada. Mais um motivo para evitar estrada.  Pelo que pude observar, eles se seguem, quando um observa o grupo, ele vai em direção. Como se estivessem percebendo que sozinhos são fracos, mas em grande quantidade nada sobreviveria. Seria uma evolução? Instinto? Tantas duvidas, ninguém para responder.
                Foi difícil convencer a menina a descer da arvore, o medo de encontrar com “eles” é obvio nos olhos dela, do mesmo modo que a entendo, chega a ser irritante, pois não temos tempo a perder, o daí deve ser aproveitado ao máximo para viajar, enquanto o numero deles diminui. Mas ela ainda não entende isso, talvez por ser criança ou talvez por ser a primeira vez que sai para o mundo.
Enquanto passávamos por um sitio ou algo que parecia um, observei diversos cavalos mortos, alguns comidos pela metade, outros apenas como se tivessem sido espancados, os portões estavam fechados, mas havia muito sangue entre as vigas de uma cerca, em um ponto único, mesmo ela se estendendo e cercando todos os cavalos, como se algo tivesse passado por ela... Seja o que for, não queria apenas comer como os “caçadores” ou ate mesmo “eles”, queria matá-los ou espancá-los, pois mesmo após comer vários cavalos, apenas matou os outros, sem mordida, sem arranhões, totalmente diferente de tudo que já vi ate agora. A coisa saiu do mesmo modo que entrou, dava pra ver por onde saiu, por que tentou levar um corpo de cavalo por entre as vigas, mas aparentemente não conseguiu, por que o cavalo estava pela metade preso entre a estreita passagem. Nem “caçadores” arrastam sua presa assim, eles matam e comem, só as afastam do grupo, mas não tentam levar embora como se fosse para o lanchinho da meia noite...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Décimo Primeiro Dia


A criança continua me seguindo, não posso cuidar dela, ao mesmo tempo que não posso abandoná-la. Ontem “eles” vieram, em pequena quantidade, mas se alguns já estão chegando, outros podem vir, muitos mais...
Passei o dia procurando outros sobreviventes, no entanto não os achei, penso se todos foram capturados ou se foram pego por “eles”, ou se ate mesmo os caçadores continuam atrás de nós.
Penso em levar de volta essa criança para aquela cidade, ao mesmo tempo que sei que eles podem lhe fazer mal, não sei se é melhor do que ela andar comigo e acabar morrendo, pelo menos naquela cidade, ate ela morrer, teria abrigo e comida, coisas que eu não mais posso oferecer. A única coisa que tenho certeza é que sempre que olho para ela, meu passado vem como um turbilhão, me fazendo lembrar do rosto... Do rosto de minha esperança...
Decidi levar esta criança comigo, pelo menos ate achar um grupo melhor para deixá-la, acho q se fosse ela, eu gostaria que fizessem o mesmo...
Tenho pouca munição, pouca comida, e a cidade que achei que poderia arrumar algo só serviu para piorar... Como se não bastasse, Diego acabou ficando com o mapa, acho q a única coisa que posso fazer, é seguir pelo norte, evitando as estradas principais, pelo menos enquanto estiver cuidando desta menina.
Ainda me surpreendo ao pensar que tantas pessoas continuam vivas naquela cidadezinha, mesmo com o que essa menina disse, é de se espantar. Será que ainda há outras cidades que conseguiram sobreviver deste jeito ou de algum outro jeito similar? Uma cidade onde os sobreviventes não tenham se tornados completos babacas homicidas?
A menina já demonstra sinais de cansaço em apenas algumas horas de viagem, realmente é difícil de acreditar que ela consiga sobreviver muito tempo fora daquela vila, mas posso ver em seus olhos o medo, toda vez que pergunto sobre aquele lugar, ela da as mesmas respostas sempre, e quando tento me aprofundar ela fica muda, olha pra baixo, se estremece, como se algo La ainda a apavorasse mesmo estando tão longe como já estamos. Não posso deixar de pensar que pode ser uma armadilha e que alguém pode estar nos seguindo... Mas mesmo assim, o olhar dela, é de alguém que nunca mais quer ver aquele lugar, nem mesmo em sonhos.
Se eu fiquei pasmo em apenas olhar para um ritual daqueles infelizes, imagino como não deve ter sido viver entre eles desde que este apocalipse começou...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Décimo Dia

Ainda não sei dizer o que aconteceu, foi muito rápido...
Mal havíamos notado que Lívia não estava entre nós, quando a vimos chegar com uma criança, e aquelas pessoas chegaram logo depois. Não pude entender, mas acredito que Lívia teve que tentar salvar as crianças daqueles lunáticos, no entanto eles a viram e a seguiram.
Eles nos pegaram despreparados, estavam todos armados. Alguns correram, assim como eu, não sei dizer ao certo quantos fugiram, quantos foram mortos e quantos foram capturados. Eles chegaram, não perguntaram, não conversaram, atiraram em alguns de nós, algemaram os que alcançaram e tentaram matar todos que correram. Não posso dizer se o que fiz foi certo, mas que escolha eu tinha?
Corri, corri e corri. Alguns vieram atrás de mim, atiraram, mas não acertaram, ate que desistiram de me perseguir. Depois de muito fugir procurei outros do grupo, no entanto só achei a criança que Lívia trouxe com ela. Não acredito que andar em companhia dela seja boa idéia, pode ser uma cilada, mas não posso permitir que ela fique aqui sozinha.
Ela me contou como sobreviveram. Eles ficam em baixo da terra quase todo o tempo, só saem para duas coisas, cultos e pegar suprimentos, a menina disse que existe uma fazenda, aonde eles pegam água e suprimentos a cada quinze dias. Ela disse que se tornaram assim devido a ficarem em uma estrada secundaria, sem acesso de rodovia alguma, com o tempo as pessoas nem se lembravam daquele lugar e criaram agricultura para se "auto reabastecer". Quem diria que após o apocalipse isso seria uma vantagem...
Uma cidade auto-sustentável... Seria o paraíso se não fossem tão malucos. Ela não soube me informar a origem do “culto” a “eles”. Apenas disse que começou após a morte do padre da cidade, parece que ele tentou ajudar um menino e foi mordido, e é por isso que crianças são tratadas como origem desta coisa.
Penso que tenho obrigação com o meu grupo para voltar e salva-los, mas ao mesmo tempo, nada posso fazer contra tantas pessoas, armadas e muito mais preparadas que eu.
Olho para essa menina, e também sei que não tenho condições de sozinho mante-la a salvo, não posso seguir viagem se tiver que me preocupar com ela, e sem o grupo seria um risco muito grande. O que fazer? Já esta de noite, e estamos escondidos em cima de uma arvore. A arvore é alta, as criaturas não conseguiriam nos alcançar, no entanto se apenas um caçador vier, ambos morreremos.
Não posso pensar em tantos problemas todos os dias, amanha irei para perto daquela cidade novamente, espero que aja algum jeito de salva-los...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Nono Dia

A cada dia que se passa neste novo mundo, descobrimos que não vimos o quão baixo o ser humano pode chegar. Em meio de uma catástrofe total como esta ele ainda pode se mostrar mais sujo do que nunca se mostrou antes.
Chegamos à pequena cidade, à primeira vista, uma grande felicidade, um grupo gigantesco de sobreviventes estava por lá, no entanto, enquanto íamos em direção a eles, para relembrar velhos hábitos humanos de encontrar pessoas novas, algo incrivelmente raro hoje em dia, notamos uma enorme jaula, algo realmente amedrontador.
Aparentava como uma grande quadra de basquete, cercada por cerca e arame farpado por todos os lados, mas repleta de sangue vísceras para todos os lados e dentro daquilo, havia um grande numero “deles”. No primeiro momento achamos que eles os mantinham presos como forma de estudo, mas de toda a forma nos mantivemos afastados e escondidos, neste mundo corremos “deles” e desconfiamos de nós mesmos.
Eles aparentavam um povo pacifico e religioso, tirando o fato da grande jaula, que inocência minha ainda colocar essas duas palavras juntas na mesma frase depois do que vi...
                Estávamos acreditando na segurança de nos apresentarmos a eles, quando Lívia reparou algo mais bizarro que a própria cela, no centro da praça da pequena cidade, havia uma cruz, feita de madeira em tamanho real. E pregado na cruz... Haia um deles...
Antes mesmo de nos recuperarmos do choque daquela cena... Eles começaram uma “missa”, vários, centenas talvez, uma quantidade de sobreviventes que eu não via a muitos meses, todos usavam roupas negras, com véus e capas. Uma beata à frente, gritava sermões da bíblia, como se os conhecesse de cabeça. Ela falava algo sobre o messias voltar dos mortos, e que aquelas criaturas eram divinas...
Eu não pude acreditar, eles idolatram esses monstros, essas coisas que não só destruíram nosso mundo, mas mataram todos que nós amávamos!
Dois homens atrás carregavam uma jaula, coberta por um pano grande, eles arrastaram a jaula ate a grande cela, e então retiraram o pano... Dentro da jaula, havia varias crianças... Eram apenas crianças...
Eles os entregaram como sacrifícios as criaturas, como oferendas... Que tipo de religião pregaria sacrifício de crianças? Que tipo de mente doentia aceitaria tal ato odioso?!
Eu não consegui nem olhar, mas os gritos delas ecoam ao fundo da minha alma, como podem? Como podem ser assim? Como pode o ser humano, no meio disso tudo, ser tão horrível? Nem em meio ao desastre o ser humano é capaz de bondade?
Apesar do grande choque daquilo, nada podíamos fazer, mas tínhamos munição para enfrentar as criaturas, quanto mais para aquelas aberrações que se acham humanas... Fugimos desesperadamente com medo que nos vissem. Como se não bastasse não termos achado comida, nem munição ou qualquer outro suprimento, nossa esperança voltou em baixa, por falta de fé em nós próprios.
E eu que achava que o ser humano não podia ser mais podre...
 
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