segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Décimo Quinto Dia

                Finalmente eles vieram para conversar. Não mostraram muita vontade de escutar qualquer coisa que eu tivesse a dizer, fizeram algumas perguntas a menina, do tipo se era minha filha, se era parente minha, de onde ela veio, quando ela não respondeu, eles a levaram, e me deixaram trancado.

                Não me interrogaram ainda, não sei por que, como disse não mostram querer saber nada sobre mim. Levaram minha arma, e todo o resto que poderia lhes ser útil, me deixaram apenas com as roupas do corpo, meus livros, lápis e um pouco de comida, trancado nesta sala.

                Eles estão fortemente armados, e parecem terem um esquema de sobrevivência aqui, acho isso pelo modo de como chegamos aqui, apenas àquela entrada, cuja qual dificilmente um “deles” conseguiria entrar, pois nunca os vi levantando um galho, quanto mais uma tampa de bueiro, e depois subir uma escada e por fim abrir mais uma tampa de bueiro.

                Ainda não trouxeram a menina de volta, com o mundo do jeito que esta, tenho medo de pensar no que possam estar fazendo a ela. Desde que os policiais saíram das ruas, que não existe mais lei e ordem, as coisas ficaram diferentes.  Aparentemente seres humanos realmente precisam de regras para terem limites, sem esses limites são capazes de crueldades e de maldades como nenhum outro ser vivo... Ou morto...

                Uma cena marcante... Lembro como se fosse ontem, na verdade, impossível esquecer... Aconteceu algumas semanas após a retirada do exercito das ruas. Quando finalmente entendemos que não havia mais o que fazer, que estávamos por conta própria, os poucos que ainda estavam vivos e sem serem infectados, tentaram se reunir, mas isso cada vez mais “os” atraia, e sair da cidade não parecia uma opção, eu estava perdido, acabava de matar o que um dia havia sido meu irmão... Tentei evitar grupos de pessoas, o que acredito sinceramente que é o real motivo de eu ter sobrevivido, “eles” preferiam ir atrás de um grupo de varias pessoas, do que de apenas uma, como se tivessem a certeza que pelo menos indo deste jeito, alguém eles comeriam...

                Mas a cena qual me refiro, não foi feita por “eles” e nem por um “caçador”, foi por um humano, quando percebi que não poderia mais sobreviver dentro da cidade, e um pouco antes de me encontrar com o grupo de Julio, passava por o que um dia foi uma igreja, tenho que falar, nunca fui muito religioso, mas aquela, parecia uma ótima hora para rezar, sem experiência de viver neste mundo, sozinho, o que mais eu poderia fazer?...

                Entrei dentro da igreja, e por sorte, não havia nenhum “deles” no local. Era tolo, não sabia que deveria se verificar um local antes de entrar. Encostei as portas da igreja, subi e fiquei em uma parte alta de dentro da igreja, subindo as escadas, de repente escutei vários barulhos, e um grande estrondo fez com que as portas se abrissem, não pude deixar de olhar, havia em torno de 3 rapazes, e eles arrastavam duas mulheres, elas estavam totalmente amarradas, e com mordaças. Tive certeza do que estava acontecendo ali quando vi, tive de me esconder, não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-las, eles as amarraram, de relance pude notar, elas estavam com luvas... Eles começaram a violentá-las, mesmo com tudo que eu já havia visto e feito, isso era algo que ainda me fazia mal de saber que existia...

                Quando eles terminaram, simplesmente foram embora, deixaram-nas lá,  simplesmente amarradas  esperando pelo pior, quando tive certeza que não voltariam para pega-las, desci, a única coisa que eu podia fazer era libertá-las, no entanto... Uma cena ainda pior viria, quando cheguei para soltar as amarras, pude ver elas direito, de onde eu estava enxergava apenas penumbras...

                Elas já estavam mortas, quer dizer, não totalmente, estavam transformadas, e por mais rápido que eu já tenha visto pessoas se transformarem, não era possível elas terem se transformado após terem sido violentadas, deviam ter sido transformadas antes. Seres humanos, violentando “eles”... Foi uma cena realmente marcante, que vi que não importa quão ruim o mundo esteja, sempre haverá pessoas buscando ganhar proveitos.

3 comentários:

Carlos disse...

Nossa..essa de violentar "eles" foi tenso...
Pergunta: essa parte da Igreja, vc fez inspirado no '28 days later' ?!
Ficou foda

ailton disse...

putz kara, acabei de ler todos os posts e o que posso dizer eh que ta cada vez mais interessante.
por acaso voce se inspira tbm no livro bento um heroi vampiro?
algumas partes me lembram do livro,
embora eu nao tenha lido todo.
no aguardo do proximo cap.

Anônimo disse...

Nossa, li tudo e ta mt loko meu!
continua !!!

 
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